Guerrilheira e perseguida por ditador: a história de luta da Bruxa do 71

22 de Agosto 2023 - 10h10

Angelines Fernández ganhou fama mundial como Dona Clotilde, a "Bruxa do 71", que vivia em conflito com as crianças de "Chaves" e morrendo de amores pelo Seu Madruga. Mas antes do sucesso na TV mexicana, a atriz estava bem longe das artes, integrando uma guerrilha que combatia o ditador Francisco Franco, líder do regime totalitário da Espanha entre 1936 e 1975.

Apesar de ter feito carreira no México, Angelines nasceu em Madrid, em 1924. Ela tinha apenas 12 anos quando o general tomou o poder, mas fez parte da oposição à ditadura desde o início do regime — que só acabou com a morte de Franco.

O passado da atriz como guerrilheira veio a público anos depois de sua morte, em 1994, graças a Paloma, filha única da estrela.

A herdeira de Fernández nunca deu detalhes sobre o papel da mãe na guerrilha, mas imagens publicadas por jornais como o argentino "Clarín" mostram o que seria a intérprete da Dona Clotilde com armas em mãos, ainda durante a adolescência, lutando ao lado de movimentos trabalhistas e republicanos. A família nunca confirmou a veracidade das imagens, apenas do passado guerrilheiro.

"Ao trabalhar nas guerrilhas da Espanha, minha mãe foi catalogada como antifranquista. Então, ela precisava deixar seu país natal. Ela chegou ao México em 1947, mas nunca foi refugiada. Depois, viveu em Havana, mas voltou para trabalhar em filmes" - Paloma Fernández, à TV Notas, em 1999.

Francisco Franco chegou ao poder em 1936 após um golpe nos partidos de esquerda da Frente Popular, que tinham vencido as eleições daquele ano. Mas um forte conflito começou quando as grandes cidades e regiões industriais da Espanha decidiram defender a República.

Os três próximos anos foram marcados por uma forte repressão: os golpistas passaram a receber ajuda da Itália fascista e da Alemanha nazista, que transformaram a Espanha em local de teste para novos armamentos.

O conflito ficou conhecido como Guerra Civil Espanhola e terminou em 1939, com o controle total de Franco sobre aqueles que resistiam à sua ditadura.

Fernández ainda resistiu alguns anos à perseguição constante do general — que torturava e fuzilava opositores — mas acabou deixando sua terra natal em 1947.

A "anti-franquista" tinha apenas 23 anos quando se mudou para o México. E apenas então começou a vida como atriz.

Chegada ao 'Chaves'

De início, ela participou de teleteatros e dublou produções no rádio, segundo o jornal "El Comercio", emplacando seus sucessos no mundo de Roberto Gómez Bolaños apenas nos anos 1970.

Quem indicou seu nome foi Ramón Valdés, que deu vida ao Seu Madruga. Ele e Fernández atuaram juntos em um filme três anos antes do lançamento de "Chaves", que aconteceu em 1973.

"Me lembro que uma vez minha mãe encontrou o Ramón Valdés na ANDA (Associação Nacional de Atores) e falou para ele perguntar ao 'Chespirito' [apelido de Bolaños] se não tinha algo para ela. O Ramón começou a falar muito bem dela e logo foram criados os personagens da vizinhança (do Chaves), com Chespirito dando forma à Bruxa do 71", contou Paloma.

O papel que deu fama mundial a Fernández foi também um de seus últimos. Em 1991, após duas décadas como a Bruxa do 71, a atriz se aposentou.

Ela morreu em março de 1994, aos 69 anos, por complicações respiratórias causadas por um câncer.

Seguindo um pedido da própria estrela, que nunca mais viveu na Espanha, ela foi sepultada na Cidade do México.

Com informações do Splash - UOL

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